Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

31 março 2008

Ramificações...

... ela tinha certeza absoluta, de que tudo havia se ido junto com aqueles últimos dias de primavera do ano passado. Havia acreditado que junto com as flores murchas, daquele finalzinho de estação, ela havia deixado também o seu sentimento desidratado. Acreditou que ele havia ficado lá amontoado com as folhas secas. Acreditou que seria utilizado como adubo. Havia acreditado definitivamente nisso e se espantou em perceber que já era um outro outono e na transitoriedade de duas estações tudo havia se renovado dentro de si. Não era um novo sentimento, e sim, aquele de lá, aquele de antes. Ele havia ganhado força e vitalidade no correr do tempo de duas estações. Possivelmente ... ele havia se escondido e se espalhado pelo seu terreno de mágoa fértil. E, pensou: era uma crueldade os sentimentos não se irem junto com o vento. Pensou, ainda, em como a chuva não os carregava rua à fora junto com o volume da água que escorre. Pensou em como o calor não derretia o salgado de outros dias.
Sentiu uma raiz dentro de si. Ramificações de um tempo de desilusão. Soprou forte como se quisesse empurrar um tempo e junto com ele arrancar sua vida enraizada. Viu seu peito se expandir pra frente e ao alto: sentiu seus lábios vibrarem numa espécie de alívio. Era um suspiro cansado mas cheio de coragem de se (re)fazer. Concordou consigo: não havia problema tentar mais uma vez ... acreditou! A raiz havia sido descoberta e podá-la iria lhe ajudar até ela ser arrancada de vez (mesmo que não fosse de uma só vez).
Um tempo não é medido apenas pelo girar das estações. A própria natureza (por imposição abusiva do homem) andava gostando de se divertir e confundia a todos ... ultimamente: brincava de esconder o frio no inverno, de mover tempestades no verão. O tempo é uma ampulheta interna e as gotículas de sangue que medem (que nos medem) não são vistas à olho nú. Ela sabia que ainda estava lá e que um tempo passou por ela mas ela não havia passado por ele. E nesse ir e vir desencontrado havia um espaço possível. Pensou em agendar um novo momento: um tempo à mais consigo.

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