Foi um dia bem melhor que aquela segunda. Ela estava menos dolorida do que antes. Uns latejos serenos ainda lhe acompanhava. Quase nada ... se comparado com a segunda anterior. Foi cheia de vida cinza-azulada expressa em sua vestimenta externa. Por dentro tratou de se colorir. Queria experimentar-se mais demoradamente dessa vez. Sempre era um novo dia, pra fazer mais e mais uma vez. Essa era a graça dos improvisos, de assistí-los e comentá-los cotidianamente. Sentia-se bem ali misturada com eles(as). Pensou que a saída depois do encontro poderia nem acontecer e nem se importou tanto! Quebras! Ela estava inteira naquele exato momento, naquele espaço-tempo que marcava/marcaria sua vida pra sempre. Todo dia era uma nova chance e aquilo lhe acalmava a alma ansiosa. Vinha aprendendo a recomeçar cotidianamente. Dava graças por isso.
E veio o riso. Veio depois da cumplicidade de olhar, de só olhar e tudo saber. Aquela lindeza de traços orientais era uma amiga de tempos e muito sabia dela. Olharam-se as duas e riram do que havia se dado: um presente de grego, uma troca de cadeiras, um "toma que o filho é teu". Ela sentiu-se infantil por não controlar o riso imediatamente. Deixou-o vir e fez com que ele sumisse depois de um alongado tempo. Coisas de adolescentes: cúmplices. Após minutos frouxos veio a proposta de exercício. Ela, a sua querida e o colega da terceira cadeira: eram só três. Nenhuma possibilidade de fuga, nem de desistência. Não ofereceu resistência. Era uma chance tripla: resgatar, entregar e recolher.
Foram os três sustentados pelo pressuposto de que: "seriam desafetos sentados numa mesa". Pensaram em seus papéis. Quem(?): duas primas e um primo mediador. Ela se forçou a ampliar o olhar e abrir espaço interno prá potencializar o que via-sentia-pensava. Arregalou-se e se deixou levar pela dinâmica da cena. E as coisas foram acontecendo: ouviram-se mais do que falaram. Conseguiram se olhar: ainda que lateralmente. Ela experimentou um desgostar diferente. Saboreou com delicadeza de alma e tudo foi se encaixando harmoniosamente. Talvez tenha aprendido com ele ... a se silenciar um tanto mais do que antes. Uma irritação comedida: cenicamente comunicativa. Uma irônia suave que contornou a cena. Algumas possibilidades.
Análises e críticas pontuais aconteceram. Ela gostou do que viu e alguns gostaram também. Ela disse à uns queridos (a) sobre alguns subterfúgios assumidos no improviso. Talvez pudesse ter se calado e falado depois. Mas, ... disse e confiava que havia espaço pra dizer. Confiou que aquele primeiro ruído não atrapalharia o que já existia. Confiou, confiaria!
Para outros(a) a coisa foi mais potente. Defesas prévias, justificativas desnecessárias: insegurança. Alguns desrespeitos evidentes para com olhar do outro (a). Egocentrados em seus fazeres habituais e simplificados. Sinalizações evidentes. Demonstrações figurativas. Vida pouca. Limitações cênicas.
Para ela tudo estava no seu devido lugar. Cada coisa em sua caixa e cada caixa de um tamanho: proporcional.
Acompanhada por mais um trio foi dançar pra ver a vida lhe levar. Foi com a vida e lhe pediu para voltar. Pediu-lhe benção! E deixou o samba passar! Avenida à dentro, vida à fora.
7 comentários:
Esta carícia de fresca brisa
Transporta a beleza de Oriente
Uma voz doce cede ao silêncio
Esta aurora acorda finalmente
A sombra perdeu-se na luz
Escuto o pranto e o riso na bruma
Palavras fugindo ao sentido
Lembranças perdidas na espuma
Boa semana
Mágico beijo
Aprender a recomeçar a cada dia...Isso é aprender a viver. A viver bem. Aprender a felicidade.
Felicidade se aprende?
Acho que sim, e, como no texto, devemos dar graças por isso.
Lindas palavras!
Beijo grande,
Renata.
Sininho,
Fiquei pensando sobre "talvez pudesse ter se calado e falado depois". Mas, também talvez, o depois não venha mais, não é? Ou, novamente, talvez venha descolorido, ou carregado de sentimentos ruins, como resultado da mistura de alguns sentimentos mal resolvidos e o mofo de tantos outros, aparentemente inofensivos (mas, eles nunca são...). Talvez reaja quimicamente e de maneira negativa. Talvez não possa ser decantado e, aí, será tarde demais. Acredito que sempre devemos confiar na existência do espaço para a colocação de impressões.
Penso que, mais uma vez, talvez, tenha sido o que ocorreu com meu desgosto no “Prometeu”. E, aí, não talvez, mas provavelmente, a culpa seja, pois, apenas dele. Talvez devesse experimentar a coragem, a sinceridade, a ação c´ritica que tranforma, mas não destroi. Quero agradecer suas palavras lá. Trouxeram-me alívio quase imediato (talvez ele exista, enfim!).
Ah, explicando: Sininho é a fada do Peter Pan. Achei que Annabel é nome de fada. E achei, então, seu nome providencial. Já havia pensado em vc como uma fada. Lá em casa, meus visitantes mais assíduos e ilustres têm chamadores diferentes para mim, já percebeu? Estou cercada pela sensibilidade e delicadeza de uma Florzinha; a meiguice e gentileza de uma Bonequinha, a força e luz de uma Estrela. Agora, também brindo a magia e serenidade das Fadas que me vem através de você.
Agradeço as forças de atração vitais que trouxeram sua amizade e carinho até mim. Sobretudo, agradeço a você. À sua paciência e à sua entrega ao ser humano.
Carinhos!
Bela Bel. deve ser uma delicia ver você em ação.
Eu que de interpretação só sei o "não gostei do que você fez", quando na verdade estou quase a explodir de rir, mas ser mãe é assim, impôr limites e ser atriz no ato da bronca, porque tem que convencer viu?
Beijins com felicidades:*
Renata,
Acho sim que a felicidade se aprende e apreende, mesmo. É um exercício que pode se tornar bem prazeiroso. Menos sofrido e mais verdadeiro. Sem falsas ilusões. Venho tentando me alongar, sabe?
Bom te ver por aqui, tão interessada e delicada!
Um beijo
Elga, adorada
Sempre fui um zero à esquerda com relação ao universo infantil. Quase não conheço as histórias de lá, sabe? Uma ignorante neste cenário.
Mas, Sininho me traz uma imagem interessante: uma fada que é melódica desde o nome. Que faz barulho... e eu faço, bem sabes. Nós fazemos!
Uma querida é o que és, tua presença confirma minhas intuições, nosso encontro será afetuoso e terno: promissor. Espero por ele.
Eu te devolvo em dobro as tuas palavras carinhosas e o teu afeto. Em dobro.
Um grande beijo,
Soninha,
Nem me fale das exigências dramatúrgicas que aparecem nesse teu amoroso universo. Parece que te vejo com os olhos arregalados e a boca trancada pra não gargalhar com teus dois fofos. Acompanho o blog de lá e sempre me divirto com os argumentos, as teorias deles. Eu imagino!
Uma artista e tanto! Uma das melhores, com certeza. Sabedora de seu papel social, por certo! Admiro-te.
Quanto ao nosso encontro... quinta-feira é um dia bem bom pra mim. O Shopping Muller é central pra ti? Poderíamos marcar pra uma quinta, se puderes, outras sugestões de data e local?
Um beijão,
Qd vc escreve a gente tem a impressao de estar lá, com a personagem, vendo de um lugar que ela nao sabe.
Quem é ela? Ela existe?
escrever é tao complexo. o leitor viaja, talvez mais que o escritor...
bel, acho lindo demais saber que vc faz teatro. Apaixonante!
Nina, esse é o encanto da leitura ... emoldurar textos, não é? Bom saber que tu me acompanhas nesses devaneios. Faço dessa janela o meu diário (daqueles da adolescência) sobre as minhas experiências dramatúrgicas desses tempos que ando vivendo. Na verdade, o teatro ficou para o próximo ano. Tive que parar por conta desse novo projeto do Olho que estás sendo encantador. Rico em ações e pensammentos. Nina, é um projeto para o cinema. Estamos na fase das oficinas, de criação e para o ano que vem virão as produções.É um trabalho de pesquisa e ação coletiva ... depois vou contando pra acompanhar o tempo, tá?
Um beijo, Nina.
Bel.
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