Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

20 novembro 2008

Coisas outras

Foi um dia bem melhor que aquela segunda. Ela estava menos dolorida do que antes. Uns latejos serenos ainda lhe acompanhava. Quase nada ... se comparado com a segunda anterior. Foi cheia de vida cinza-azulada expressa em sua vestimenta externa. Por dentro tratou de se colorir. Queria experimentar-se mais demoradamente dessa vez. Sempre era um novo dia, pra fazer mais e mais uma vez. Essa era a graça dos improvisos, de assistí-los e comentá-los cotidianamente. Sentia-se bem ali misturada com eles(as). Pensou que a saída depois do encontro poderia nem acontecer e nem se importou tanto! Quebras! Ela estava inteira naquele exato momento, naquele espaço-tempo que marcava/marcaria sua vida pra sempre. Todo dia era uma nova chance e aquilo lhe acalmava a alma ansiosa. Vinha aprendendo a recomeçar cotidianamente. Dava graças por isso.

E veio o riso. Veio depois da cumplicidade de olhar, de só olhar e tudo saber. Aquela lindeza de traços orientais era uma amiga de tempos e muito sabia dela. Olharam-se as duas e riram do que havia se dado: um presente de grego, uma troca de cadeiras, um "toma que o filho é teu". Ela sentiu-se infantil por não controlar o riso imediatamente. Deixou-o vir e fez com que ele sumisse depois de um alongado tempo. Coisas de adolescentes: cúmplices. Após minutos frouxos veio a proposta de exercício. Ela, a sua querida e o colega da terceira cadeira: eram só três. Nenhuma possibilidade de fuga, nem de desistência. Não ofereceu resistência. Era uma chance tripla: resgatar, entregar e recolher.

Foram os três sustentados pelo pressuposto de que: "seriam desafetos sentados numa mesa". Pensaram em seus papéis. Quem(?): duas primas e um primo mediador. Ela se forçou a ampliar o olhar e abrir espaço interno prá potencializar o que via-sentia-pensava. Arregalou-se e se deixou levar pela dinâmica da cena. E as coisas foram acontecendo: ouviram-se mais do que falaram. Conseguiram se olhar: ainda que lateralmente. Ela experimentou um desgostar diferente. Saboreou com delicadeza de alma e tudo foi se encaixando harmoniosamente. Talvez tenha aprendido com ele ... a se silenciar um tanto mais do que antes. Uma irritação comedida: cenicamente comunicativa. Uma irônia suave que contornou a cena. Algumas possibilidades.

Análises e críticas pontuais aconteceram. Ela gostou do que viu e alguns gostaram também. Ela disse à uns queridos (a) sobre alguns subterfúgios assumidos no improviso. Talvez pudesse ter se calado e falado depois. Mas, ... disse e confiava que havia espaço pra dizer. Confiou que aquele primeiro ruído não atrapalharia o que já existia. Confiou, confiaria!

Para outros(a) a coisa foi mais potente. Defesas prévias, justificativas desnecessárias: insegurança. Alguns desrespeitos evidentes para com olhar do outro (a). Egocentrados em seus fazeres habituais e simplificados. Sinalizações evidentes. Demonstrações figurativas. Vida pouca. Limitações cênicas.

Para ela tudo estava no seu devido lugar. Cada coisa em sua caixa e cada caixa de um tamanho: proporcional.

Acompanhada por mais um trio foi dançar pra ver a vida lhe levar. Foi com a vida e lhe pediu para voltar. Pediu-lhe benção! E deixou o samba passar! Avenida à dentro, vida à fora.

7 comentários:

O Profeta disse...

Esta carícia de fresca brisa
Transporta a beleza de Oriente
Uma voz doce cede ao silêncio
Esta aurora acorda finalmente

A sombra perdeu-se na luz
Escuto o pranto e o riso na bruma
Palavras fugindo ao sentido
Lembranças perdidas na espuma


Boa semana


Mágico beijo

Renata disse...

Aprender a recomeçar a cada dia...Isso é aprender a viver. A viver bem. Aprender a felicidade.

Felicidade se aprende?

Acho que sim, e, como no texto, devemos dar graças por isso.

Lindas palavras!

Beijo grande,

Renata.

Elga Arantes disse...

Sininho,

Fiquei pensando sobre "talvez pudesse ter se calado e falado depois". Mas, também talvez, o depois não venha mais, não é? Ou, novamente, talvez venha descolorido, ou carregado de sentimentos ruins, como resultado da mistura de alguns sentimentos mal resolvidos e o mofo de tantos outros, aparentemente inofensivos (mas, eles nunca são...). Talvez reaja quimicamente e de maneira negativa. Talvez não possa ser decantado e, aí, será tarde demais. Acredito que sempre devemos confiar na existência do espaço para a colocação de impressões.

Penso que, mais uma vez, talvez, tenha sido o que ocorreu com meu desgosto no “Prometeu”. E, aí, não talvez, mas provavelmente, a culpa seja, pois, apenas dele. Talvez devesse experimentar a coragem, a sinceridade, a ação c´ritica que tranforma, mas não destroi. Quero agradecer suas palavras lá. Trouxeram-me alívio quase imediato (talvez ele exista, enfim!).

Ah, explicando: Sininho é a fada do Peter Pan. Achei que Annabel é nome de fada. E achei, então, seu nome providencial. Já havia pensado em vc como uma fada. Lá em casa, meus visitantes mais assíduos e ilustres têm chamadores diferentes para mim, já percebeu? Estou cercada pela sensibilidade e delicadeza de uma Florzinha; a meiguice e gentileza de uma Bonequinha, a força e luz de uma Estrela. Agora, também brindo a magia e serenidade das Fadas que me vem através de você.

Agradeço as forças de atração vitais que trouxeram sua amizade e carinho até mim. Sobretudo, agradeço a você. À sua paciência e à sua entrega ao ser humano.

Carinhos!

SGi/Sonia disse...

Bela Bel. deve ser uma delicia ver você em ação.
Eu que de interpretação só sei o "não gostei do que você fez", quando na verdade estou quase a explodir de rir, mas ser mãe é assim, impôr limites e ser atriz no ato da bronca, porque tem que convencer viu?
Beijins com felicidades:*

Bel disse...

Renata,
Acho sim que a felicidade se aprende e apreende, mesmo. É um exercício que pode se tornar bem prazeiroso. Menos sofrido e mais verdadeiro. Sem falsas ilusões. Venho tentando me alongar, sabe?
Bom te ver por aqui, tão interessada e delicada!
Um beijo

Elga, adorada

Sempre fui um zero à esquerda com relação ao universo infantil. Quase não conheço as histórias de lá, sabe? Uma ignorante neste cenário.
Mas, Sininho me traz uma imagem interessante: uma fada que é melódica desde o nome. Que faz barulho... e eu faço, bem sabes. Nós fazemos!
Uma querida é o que és, tua presença confirma minhas intuições, nosso encontro será afetuoso e terno: promissor. Espero por ele.
Eu te devolvo em dobro as tuas palavras carinhosas e o teu afeto. Em dobro.
Um grande beijo,

Soninha,
Nem me fale das exigências dramatúrgicas que aparecem nesse teu amoroso universo. Parece que te vejo com os olhos arregalados e a boca trancada pra não gargalhar com teus dois fofos. Acompanho o blog de lá e sempre me divirto com os argumentos, as teorias deles. Eu imagino!
Uma artista e tanto! Uma das melhores, com certeza. Sabedora de seu papel social, por certo! Admiro-te.
Quanto ao nosso encontro... quinta-feira é um dia bem bom pra mim. O Shopping Muller é central pra ti? Poderíamos marcar pra uma quinta, se puderes, outras sugestões de data e local?
Um beijão,

Nina disse...

Qd vc escreve a gente tem a impressao de estar lá, com a personagem, vendo de um lugar que ela nao sabe.
Quem é ela? Ela existe?

escrever é tao complexo. o leitor viaja, talvez mais que o escritor...

bel, acho lindo demais saber que vc faz teatro. Apaixonante!

Bel disse...

Nina, esse é o encanto da leitura ... emoldurar textos, não é? Bom saber que tu me acompanhas nesses devaneios. Faço dessa janela o meu diário (daqueles da adolescência) sobre as minhas experiências dramatúrgicas desses tempos que ando vivendo. Na verdade, o teatro ficou para o próximo ano. Tive que parar por conta desse novo projeto do Olho que estás sendo encantador. Rico em ações e pensammentos. Nina, é um projeto para o cinema. Estamos na fase das oficinas, de criação e para o ano que vem virão as produções.É um trabalho de pesquisa e ação coletiva ... depois vou contando pra acompanhar o tempo, tá?
Um beijo, Nina.
Bel.