Dissolver

Depois daquele episódio do leite em pó no carro ela havia se viciado naquele sabor. Ia para o seu mundo ( formatado num teclado) acompanhada de uma xícara cheia daquele pozinho amarelinho. Saboreava algumas colheradas durante seus passeios virtualizados. Nada de misturá-lo no seu café amargo. Gostava dele como era ... dissolvia-se junto com ele e encontrava seu prazer aos poucos e com gosto.
Naquela semana muito havia vivido. Viu o amor alongado por horas, recolhido em caixa de ferro, digerido em copos de café, desmaiado em sofá-cama amarelado pelo pouco uso. Viu o amor dissolvido e sorvido como ela fazia com aquela xícara de leite em pó. Tinha esperança na força daquele amor. Tinha fé na vida que se renova pelo efeito da marca que só o tempo impõe. Sabia que nem tudo se derreteria como algumas das suas colheradas. Sabia que o sabor demoraria pra ser reconhecido. Mas viria ... tudo iria ser revisto e sobrariam só as essências. Aos poucos tudo voltaria com a necessidade do tempo devido. Desejava que as essências tivessem sabor de baunilha