Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

20 outubro 2010

Ela ainda espera o inesperado

Ela estava rodeada por sua saia cheia de flores brancas bordadas sobre o tecido preto: uma espécie de escudo. Ela estava mais em si do que de costume e isso deveria ser um anúncio dos bons.
Vieram as três músicas para aquecer: um encontro novo se deu. Miudezas podem ser esquecidas embaixo de tapetes empoeirados, miudezas podem ficar escondidas entre as almofadas de um sofá e poderiam ser deixadas pra depois. Dançou e deu um abraço (sincero) de despedida. Depois da valsa ... o ensaio misturado ... todos e todas juntos no centro do palco. A mesma luz. A simplicidade de sempre. Ele coordenando com a generosidade costumeira. E quando ele está dirigindo tudo flui .... e se encaixa e há espaço para os enfeites. E há nós que são desatados. E há o olhar de cumplicidade e doçura que tudo envolve. Desconfiava que ele produzia mel.
Ela escolheu um banquinho branco pra chamar de seu. Posicionou-se sobre ele perto da cortina azul que pra ela havia se transformado numa espécie de manto: aquele lugar era mesmo sagrado. Sacristia. Havia se confessado tantas vezes naquele palco. Havia se perdoado muitas outras. Haviam lhe acusado gratuitamente, mas, isso já havia se transformado em hábito.
Sentada viu a saia encostar no chão e viu o preto florescer. Nenhuma ordem. Nem numérica. O tempo do despertar exige uma maior atenção. No primeiro silêncio ela se fez ecoar. Trouxe suas aranhas pra perto. O mais perto possível. Lembrou do olhar da Nana e quis lhe homenagear.
Levou sua dor pra passear e diminuiu a dose. Alguns risos ... no enterro de suas aranhas. Alguns estranhamentos displicentes. Olhos .... ela gostava de olhar os olhos. Nos olhos. Por dentro. Para os lados. Ela estava em cena. Iliminava-se em dias como aquele.
E a plateia no centro e o coração nas mãos. Ofereceu-se por inteiro. Torceu por quase todos .... por menos de meia dúzia de todas.
Ele fez a entrega do papel com um gesto de delicadeza que toda formalidade exige. Ele imprimiu seu olhar sobre o papel carimbado na conclusão do registro. Ela ficou por último. E levou sua transparência pra se encontrar com ele.
Ele aceitou .... e ela também.
Mais uma vez ela havia sido aluna.
Na despedida o olhar não se voltou mais para trás. Na despedida ela se deixou ir sem desviar. No fim de tudo enquanto passava pela última porta o abraço mais emocionado e a despedida sussurrada.
Quem sabe haveria um dia!
Aquele inesperado. Aquele esperado por quase todo o tempo. Aquele que ela merecia.

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