Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

25 fevereiro 2008

...Um arco-íris (em) possibilidades!

... ela sentia bem de perto o cheiro do medo. Seu olfato apurado sabia reconhecê-lo mesmo quando ele vinha misturado ao cheirinho do café ... recém-passado. Era inevitável não modificar sua respiração na tentativa de domesticá-lo... pensou sobre isso, no exato momento, em que tentou adoçar seu café. Um devaneio lhe veio imediatamente: talvez fosse possível inverter a ação... adoçar seu medo e domesticar o desejo pelo café. Ela bem sabia já estar viciada ... gostava até de seu sabor (com leite gelado). Para a maioria ... café gelado parecia heresia! E ainda mais adiante ... deu-se conta de que nunca havia adoçado o café! Um gesto (des) medido ... por certo! Um (quase) impulso, talvez!
Enquanto pensava no desafio que lhe exigia vigília ... encheu sua xícara colorida e grande e tentou encontrar uns biscoitos doces. Seu café amargo sempre necessitou de um docinho pra lhe acompanhar. Confirmou um antigo pensamento: a amargura também poderia ser adoçicada ... ao sabor da descoberta de seu tempo.
Pensou em não ir!
Tentou encontrar argumentos pra ficar em casa bem quietinha ... bem quentinha. Viu que uma chuva se anunciava e tentou utilizá-la em sua defesa: o trânsito ficaria insuportável, o carro ficaria na rua (poderia chover granizo ... em Curitiba isso não era incomum), seus cabelos molhados não secariam ... tantas defesas (a maioria delas, são sempre, bem superficiais)! Mas, nem a chuva veio ... ela também insistia em ficar. Num impulso de rebeldia olhou pr úm mundo nublado e viu seus argumentos brincarem de zigue-zague à sua frente ... pareciam raios potentes. Contrapôs-se à eles. Esperou a hora chegar ... e, muito perto dos segundos que antecedem a materialização da desistência ... deu um primeiro impulso e se posicionou um tanto mais à frente. Num movimento contínuo se preparou para a partida. Desta vez vestiu seu legging listrado e um camisetão cinza ... abandonou o alaranjado de seus dias de ínicio. Já era em tempo ... uma vez que as cores se apresentavam no formato de um arco-íris (de) possibilidades. Despojadamente se lançou à frente de seu tormento ... em movimento. Sentiu que seu medo lhe parecia, realmente, adoçicado. Até o amargo que ficava preso na saliva parecia se ir menos denso. Talvez, a doçura pudesse mesmo ser contagiante!
Entrou em cena e a luz lhe coloriu o estado ... de alma. As palavras de antes que davam vida a seu texto: " Era pra ser só nós ... um mundo só pra nós dois ... cercado por nós mesmos. Tudo em nome do amor ..." lhe vieram de forma mais suave do que sempre. Sentiu que o fel da dor (de antes) também havia se dissolvido tal qual um pirulito. A dicção lhe pareceu bem articulada e a luz de Pin Bin lhe acentuou ... amplificou o gesto medido ... acomodou o que lhe fez sentido.
Uma exposição à mais: percebeu que a cena ... a dor de se estar em cena (mesmo que de improviso) aos poucos ia se diluindo no encontro com o prazer. Ela certamente vinha encontrando um Bel-prazer! Uma segurança conquistada lhe colocava numa posição mais confortável ... seus olhos ampliaram o foco e a luz não mais lhe feria. Não mais à luz do dia.
Um domínio ... qualquer ... amplia o poder. E, se o domínio vem de um encontro interno pensou ser justo conquistar alguns outros pedaços daquela caixa preta. Prometeu avançar em outras direções além do centro ... projetou seus deslocamentos em linhas laterais ... em trajetos diagonais. Ela queria riscar o chão ... deixar seus rastros por lá! Sentiu que aquele "pedaço de terra" ... poderia ser seu. E seu olhar se avolumou novamente ... umidamente!..

6 comentários:

Anônimo disse...

Bel, como sempre vc arrasa nos textos. � sempre uma viagem com direito a mil e uma interpreta�oes. Na minha interpreta�o, at� o Tuju estava nesse (con)texto. Escrevendo tal qual vc (risos).

Adoro seus comentarios no blog. Tenho uma amiga que deixou de comentar pq ela disse que quando vai la e ve o seus, fica at� com vergonha do que ia dizer, pq vc sempre diz tudo...e diz bem dito. Eu rio dela. Que boba!

Beijooooooooo

cris de bourbon

Anônimo disse...

SU-BLI-ME!!!!
Que orgulho, que texto maravilhoso, quanto talento...

Que bom que ela deu o primeiro passo, é preciso ter coragem e não esquecer: A arte precisa dela, assim como ela precisa da arte.

Tô com muitas saudades!
Beijos mil!

Bel disse...

Duas queridas...que ainda insistem em me ler! Cada uma por um motivo!
Sei que gostam de mim... sinto isso até pela insistência de chegar ao fim de meu devaneio.
Cris... que bom que gostas ...que imaginas. Na verdade é um registro do meu dia... da minha aula de teatro e de meus entendimentos sobre ela, sabe? A caixa preta é o palco e Tujú está sempre comigo...mesmo!
Janinha...tu és uma coisa... só tu mesma! Sei que me entendes eé só por isso que me aplaudes....tanto!
Muitas saudades também...muitas.
Beijos, queridas.
Bel.

Unknown disse...

MA-RA-VI-LHO-SO!!!
LINDO!!
Bjins, Dani.

Bel disse...

Dani...descobri que moras em Brasília...lá pela Cris. Sabias que morei aí por 4 anos? Faz só 3 que estou por aqui. Adorei a novidade...encontro e desencontros.
Sempre gosto de saber que passeias por aqui,
Beijos, Bel.

Unknown disse...

Vi no outro post... e respondi... e eu gosto de passear por aqui.
Bjins, Dani.