Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

18 novembro 2008

Tantos (as) comigo ... um alívio

Ficção Viva: Um projeto Coletivo
Foto: Marco Novack

Aquela segunda-feira lhe trouxe uns ares pesados que pulsavam na parte frontal da cabeça. Sentiu que a sinusite lhe alterava. Na tentativa de um esforço foi para o encontro apesar de suas dores pulsantes. Pensou que por lá, talvez, ela pudesse encontrar um certo alívio. Esqueceria dos aprisionamentos recorrentes: dentro e fora de si. Talvez, pudesse encontrar espaço interno pr'um pouco de ar puro, ar fresco, vida cência renovada. Foi tentando se aliviar pelo trajeto, chegou pulsando mais do que rotineiramente. Sentiu-se tão aceita por alguns tantos! Tanta entrega para outros (as), tanta ternura nos toques, e ela foi por lá ficando. O poder do afeto pode curar algumas dores na alma: agradeceu.
Um improviso sugerido lhe colocou frente à frente com ele. Ele era um querido que vinha lá de antes: primeiro encanto da primeira turma. Ela admirava a ousadia dele em se entregar depois de tanta vida. Ele ali, misturado, entre tantos daqueles espíritos jovens. Ele também era, por certo, mas seus lindos cabelos brancos sinalizavam o (inevitável) passar do tempo. Ele tinha uma beleza alva: era um homem elegante e refinado. Perfumado sempre se fazia notar. O teatro era o seu mundo encantado, ele havia experimentado muito mais o riso do que o contido. A comédia havia lhe escolhido e ele havia aceitado. Por ali, novas possibilidades lhe exigiam. Sugeriam-lhe um outro olhar mais demorado e um tanto mais profundo. Ele se colocava em conflito: seus olhos ainda se escondiam.
E, lá estava ela: frente à frente com ele. Ele cheio de expectativas. Ela querendo lhe oferecer a ternura primeira: olhos nos olhos. O caminho da entrega é longo e sinuoso, é um exercício de contínua ousadia. E a cena se deu: menos do que merecia ser. A expectativa, por vezes atrapalha o fluxo da alma, o olhar focado da cena, a entrega verdaderia. Pai e filha em conflito, falas deslocadas em gestos previstos. E tudo ficou ali congelado naqueles instantes. E aquela câmera que sempre devora! Foram devorados porém religados. Ela lhe disse o que vinha no coração: sugeriu um tanto mais de entrega. No fim de tudo o recomeço. No ritual da despedida deu-lhe um beijo terno e ela lhe perguntou se tudo estava bem. Com seus olhos vívidos ele respondeu: "Claro, Xuxú"!
Confortada ... aliviou as dores que haviam lhe tomado o coração. Restava apenas a dor concentrada na cabeça. E, reconheceu que aquela era bem menos densa ... com toda certeza. Aliviaria-se.

9 comentários:

Elga Arantes disse...

"A expectativa, por vezes atrapalha o fluxo da alma'. Verdade bruta, genuína.

Fico pensando que se vc se entrega a dramaturgia, como faz com seus escritos (e, eu, aposto que sim), deve ser uma atriz excepcional.

E, enfim, alívio. Não imediato, mas alívio. Adoro essa palavra: ALÍVIO. Acho-a tão leve, suave, serena...

...existe alívio imediato??

ALÍVIO!!

Bel disse...

Elga, querida.
Tua presença sempre ilumina meu dia. Nossos "diálogos" são alívios, para mim, sabe?
Olha, minha entrega é visceral, mas, chegar ao excpecional ainda é um caminho e tanto...tenho fé de um dia poder dizer que sou: de verdade e com a responsabilidade que esse título carrega. Sinto-me aprendiz mas tento ser inteira e vedadeira. Acho que isso alivia o percurso e traz esperanças um dia chegar.
Alívio Imediato? Eu acho que não existe... acho que pra se chegar a sentir o alívio há que se penar um tanto, há que doer numm alto grau, caso contrário, não é alívio. E uma cura imediata, sem busca e procura intensas ...pra mim ... não existe. É conquista e toda conquista têm seu tempo e um certo preço. Eu acho....vou pensar mais sobre. E tu? O que pensas?
Um beijo estalado, querida.
Bel.

Lilian Glaisse disse...

Bel, querida fofíssima!
Tu que és incrível com tuas sempre belas palavras!
sabe que eu até fiz teatro, mas numa época tive que escolher entre ele e a dança.
Hoje não faço nenhum nem outro. Uma pena, porque era uma terapia!! rs

beijocas!

Bel disse...

Mas Lilian ... teatro não é terapia. Teatro é vida pulsada, é ir e voltar pra si. É tanto mais que isso....tanto mais!!!
Teatro ... bem feito é arte.
Mas que levas jeito...ah...levas.
Dançarina também combina. Tens leveza e és muito fotogência.
Sempre consigo me divertir lá nos teus achados.
Um beijo, bel.

SGi/Sonia disse...

Bel os seus últimos textos estão tão cheios de vida, tão maravilhosamente brilhantes, venho leio, reflito(os meninos chamam) e não comento, mas hoje o mais velho foi dormir na casa do amigo, para fazer um trabalho, o mais novo dormiu no meu colo enquanto via Charlie e Lola, estou aqui em silêncio e contemplando cada palavra escrita, as vezes sinto aquele choro preso que teima em não sair solto, mas tudo bem, outro dia venho aqui e com alegrias ou não, ele saí.

Beijins com felicidades Bel que encanta:*

Bel disse...

Ô Soninha.
Imagina só ... em pensar que tu retiras um tempo teu pra vir me ler! Quando eu poderia imaginar que pessoas (fora do meu convívio imediato) passeariam por aqui e retornariam tantas vezes. Eu te agradeço a partilha, viu? Sempre passeio por teu jardim e vejo as cores do amor no rostos e causos dos teus filhotes. Divirto-me com teus contos bem humorados. E, quando comentas aqui és tão poética... sempre. Sinto-te muito sensível aos meus devaneios. Temos que marcar um café, não é? Numa tarde dessas .... vamos? Pra gente se conhecer um pouco melhor, se apresentar e confirmar o carinho. Dias desses dará certo.
Um grande beijo e agradeço tua companhia.
Beijos pros meninos lindos...os três (se me permites).
Bel.

Biana França disse...

Bel, e essa entrega a esse amor é uma coisa louca, com sua palavras sinto falta dessa emoção, dessa pulsação. Bel que se entrega, que se deixa dominar palas garras da arte de atuar, vc já é excepcional, mesmo que para vc, que é certamente bem crítica consigo, exija um pouco mais, e esse pouco mais talvez nunca alcancemos, senão perde-se o frio na barriga, o suor das mãos e a vontade de fazer sempre o melhor!
Te quero sempre tão bem, minha querida amiga distante!

Bel disse...

Biana,
Vejo que já provastes mesmo dessa vida de lá, daqui. Só dá pra estar ... se for assim, inteiro, com força e fé,não é? Sou super crítica mesmo, Bi... e sempre primeiro comigo mesma como já deves ter sentido.
Saibas que a distância pode potencializar o afeto ... como acontece conosco. Há afeto, Bi, verdadeiro! Cuide-se bem!
Um beijo, querida.
Bel.

SGi/Sonia disse...

Bel, adorei.
Vamos marcar esse cafezinho, como sou dona de casa deixo a teu critério a data, para mim sempre é melhor a tarde, o local no centro da cidade, pra que eu não precise dirigir(não gosto de jeito nenhum...), seria um encanto encontrar você ao vivo.
Me diz uma coisa, tem notícias da Geisa? ela nunca mais escreveu nada, tá tudo bem com ela né?
Beijins com felicidades:*