Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

11 março 2009

Depois do calor ... a insistente chuva.





Arte em fotografia: Marco Novack

Analice saiu de sua cadeira e se posicionou. Colocou-se bem em frente ao meio círculo de gente e sentiu o calor de cada olhar curioso que lhe lançavam enquanto cumprimentava-os. Pela primeira vez esqueceu da câmera dirigida pra si. Quis invadí-la nos primeiros segundos porque o exercício do ofício lhe exigia o contato (na maioria das vezes). Mas depois da excitação inicial se esqueceu. Mergulhou no que sentiu desde aquele dia quente. Aquela inspiração sugeria um molde. Respirou pra dentro, cruzou suas pernas e ajeitou sua saia florida em preto e branco como se ajeitasse as pétalas de uma flor murchinha pelo calor do momento. Preto e branco: uma escolha. Sugestões: polaridades, complementariedades, oposição. Estabeleceu um eixo pra tentar se segurar e manter a elegância herdada de Saramaga. Resolveu abandonar sua sandália e pediu licença para ficar descalça. Quis estar semi-nua. Sentiu-se assim naquele encontro marcado. Entrevistas .... sutilezas ... lente .... objetiva ... coerência ... loucura de alma .... fluidez. Mas, ainda maior que aquilo tudo, era a melancolia. Acompanhada dela, da sua pulsação intensa, da sua vontade de devorar o mundo inteiro ... ainda assim ... o que mais havia dela era a melancolia do olhar. E ... vindo dela era pra ela. Ela era . Herdou seu jeito e quis cultivá-lo pra si. Valoração de um afeto. Relíquias não deveriam ser replicadas. E, pensando assim tentou compor uma mistura delas. Naquele primeiro movimento esse seria um acerto. Analice havia ampliado seu acervo com as jóias emprestadas de Saramagra. Em consignação ... ofereceu-se. Viria mais de tudo aquilo dentro de alguns dias. Quis expor seus sentimentos dentro de vitrines iluminadas que só as prateleiras de uma estante antiga conseguem acomodar. Quis emoldurá-los em madeira nobre de traços contornados e rebuscados artesanalmente. Mas no fim de tudo o que sempre ficava nela era a umidade de seus olhos molhados. Aquelas transparências que insistiam em ocupar o espaço condicionado pela centralização das retinas. Que insisitiam em aumentar o volume. E como nuvem condensada veio a chuva: uma tentativa de disfarce.

5 comentários:

SGi/Sonia disse...

Belzinha que intenso tudo isso, vejo que está dando bons frutos o projeto.

Continua sempre muito bela.

Beijins:*

Anônimo disse...

Bel, querida!! Sintonia e conexão maior impossível! E nós duas com lentes a nos observar, colorindo as telas com o nosso preto e branco!
To até arrepiada!

Seja o que for, tenho certeza que vai brilhar como ninguém!

ah, Bel! Quando vem me visitar?

Um beijo e um abraço muito, muito forte!

Sofia Fada disse...

"E como nuvem condensada veio a chuva: uma tentativa de disfarce."
que lindo isso Bel!
saudades do nosso contato mais próximo ;)
bjs, querida

Nina disse...

que bonita!!

Fiona disse...

Bel,
já disse que suas fotos são pura arte, né? É como se vc saltasse delas. É diferente do normal. Principalmente as que vc tira sem pretenções. Coisas de quem tem a arte na alma.

Querida, to passando so pra te deixar um beijo, pedir desculpas por não estar tão presente aqui na tua janela, e te dizer que isso é so uma fase sem inspiração e que já, já eu volto a ativa.

Seu carinho lá na meu canto é especial demais pra mim!
beijoooo