Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

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24 fevereiro 2010

Hábitos recorrentes ou porque a aranha marrom (ainda) não tem cemitério

... quase 3 da manhã. E o pensamento de que logo iria clarear a fez querer se desligar. Desligou os aparelhos que sinalizavam intimidade e viu a escuridão se despedir diante de si. Havia ainda os leds vermelhos dos aparelhos eletrônicos: eles eram os sobreviventes. Em direção ao quarto e a cama forrada com seus lençóis brancos de 600 fios se viu tateando as paredes do corredor que também era forrado, desta vez, por um tapete amarelo-florido. Nas pontas dos dedos das mãos sentia a aspereza do cimento lixado e pintado de branco e sempre pensava que iria manchá-lo. As mãos e as impurezas do mundo. Sempre assim o fazia. Hábitos recorrentes. Exatamente no meio do corredor, onde a escuridão se revela um tanto mais sombria do que antes, ela se dava conta do tamanho do risco. Exatamente no meio do caminho ela pensava na possibilidade de um encontro (in)esperado com a famosa aranha-marrom. Enquanto caminhava avançando rumo a outra metade lembrava dela e elevava seu calcanhar como se pudesse proteger-se do contato oferecendo apenas as pontas dos pés. A metade dos dedos dos pés. Familiariedades.
Curitiba era a terra prometida da aranha-marrom. Nada podia se fazer a não ser conviver com o perigo anunciado. Uma picada poderia ser fatal, a propósito, quase sempre é. Pensou em como era difícil pra ela tirar a vida de uma aranha-marrom: há uns três anos atrás era dele a cruel tarefa de extermínio. O tempo acomoda, por vezes, hoje, ela já a executa. Com dor no coração é bem verdade. Antes do ato ela ainda suspira e cria coragem. Mas a crueldade também se constrói. Ela se via assim como as via. Correndo quando afrontadas e com medo: encolhida num canto. À espera. Do hábito se viu materializando seu ato de crueldade adquirindo duas espécies de espalmadeiras de plástico coloridas (uma verde e outra amarela) para que os chinelos pudessem se ocupar apenas de sua função: proteção. Era triste se ver depois do golpe. Era triste ver e se ver. Mas a cor poderia aliviar o ato. O marrom se diluia nos quadradinhos da "espalmadeira". Queria poder devolver a terra o que dela veio. Fazia isso com os passarinhos que encontrava nas ruas, com alguns bichinhos que morriam dentro de casa. Seus vasinhos eram uma espécie de cemitério. Há múltiplas funções para um jardim. Mas as aranhas ainda eram só aranhas. E o marrom era uma cor difícil de compor com outras. Uma pena! Poderia rever essa sua posição. Iria .... por certo.
Como dizia .... há hábitos recorrentes. Sempre que chegava na cama sã e salva prometia se guiar (na próxima vez que fizesse o mesmo percurso) com o auxílio de uma lanterninha redonda que ficava em cima de seu gaveteiro de quarto. Pensou: promessas podiam ser recorrentes também.

2 comentários:

Geisa Mariana disse...

Comadre...entre vc e elas...opte por vc certo?? Cuidado com o esconderijo delas...(sapatos)..bjsss

Bel disse...

Simmmmm, comadre. Sei que tem que ser assim. Até porque tem um príncipe que pode aparecer aqui a qualquer momento, né?
Saudades, muitas,
Um beijo,
Bel.