Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

19 setembro 2010

A espera da flor que abre

... passava horas transplatando suas flores. De vasos menores para os maiores. De terras mais ressecadas para aquelas com pequenas minhoquinhas assustadas se revirando em busca da umidade natural.
Passava horas pensando se tinha o direito de podar as folhinhas amarelas que sempre surgem depois do tempo seguidamente frio. E, quando podava, devolvia a terra os seus restos mortais. Deixava cada poda dentro dos vasos originais. Enterrava-as. Aliviava sua culpa. Amenizava a crueldade que sempre há nas podas ditas naturais.
Passava horas recolhendo pedrinhas miúdas pra forrar os vasinhos que receberiam mudas novas. Gostava dos gerânios suspendidos que avançavam para o alto, para os lados e para baixo. Queria aprender com os gerânios a se espalhar em todas as direções. Queria não sofrer por ficar só alguns dias em formato de flor. Queria não mais recolher as pétalas do chã0. Queria entender o processo .... todo esse processo.
Queria gostar de ser folha ... só uma simples folha de gerânio cor de rosa.
Vibrava com as cores novas que ressaltavam em dias como aquele: de primavera. Das mudinhas de bocas de leão aos amores perfeitos miúdos. Era tanta cor que se perdia na melancolia dos cinza daqueles últimos dias. Mas insistia em se contaminar de novas cores. Em se abastecer de terra molhada e nova. De se fertilizar pra depois florescer.
Um dia entenderia o valor das folhas. Por hora ainda esperava cada flor se abrir. Vigiava-as dia `a dia. Quando uma abertura nova surgia ela conversava com elas anunciando-lhes o milagre da vida. Anunciando-se. Sentia-se viva quando uma flor pra ela .... ria.

Nenhum comentário: