Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

30 março 2012

Molhação

... Depois de dias acamada levantou e foi ver seu jardim. Olhou vaso por vaso pra confirmar a aridez daqueles dias. Terra seca em dias sem chuva. As plantas estavam dependendo dela e de sua molhação. Dias sem lágrimas eram dias de aridez também. Ainda fraca em meio a desilusão e crença aqueceu seus pés recorrendo a um par de meias cinzas e foi. Viu a borboleta amarela e pensou que se as borboletas duravam pouco aquela já resistia há dias ... bravamente. Seria uma outra? Seria a mesma que se refazia a cada dois ou três dias? Mistérios de uma natureza nem sempre tão viva e colorida. Aos poucos as flores agradeciam a umidade artificial. Aos poucos ela se deixava embelezar por seu plantio. Gostava de ver suas florzinhas lhe surpreender. Depois de 3 dias as surpresas apareciam em maior quantidade? As amarelas estavam encorpadas. As mini-rosas estavam mais miudinhas e coloridas do que nunca. Botões novos. Botões abertos no dia anterior. Os gerânios pediam pra quebrar os galhinhos em que as flores já haviam despetalado.
Aos poucos foi se envolvendo. Era de envolvimento que precisava. Era envolvimento que oferecia. Continuadamente. Insistentemente.
Talvez aquele cansaço vinha desse insistência natural. Desse jeito de ser. Dessa forma de se ver e de ver o mundo todo desde o seu jardim. Lembrou dos gatinhos selvagens que precisavam comer e beber seu leite de todo dia. Mesmo de cama ela se levantou a cada dia pra lhes alimentar. E quando não foi ... eles a chamaram miando como nunca. Malhado, Chorão e Tigrezo pareciam lhe reconhecer. Falava que eram machos .... Não saberia verificar mesmo que pudesse. Pensou nesse porque .... talvez viesse do hábito natural de melhor se relacionar com os meninos, com os homens e agora com os machos. Fêmeas exigiam mimizices e ela não queria lhes oferecer.
Foi a parte de traz da casa e trocou a vasilha de água dos passarinhos que gostavam mais de se banhar do que de beber. Água limpa e banana cortada espalhada pelo quintal. E aos poucos e com tempo o mundo voltava a sua cena. Com um certo gosto.
Pensava se iria agüentar ir para despedida do curso naquela noite. Improvisaria se pudesse. Tentaria se conseguisse querer. Um querer. Talvez por conta da tosse, da fraqueza do corpo. Mas era o desânimo que mais lhe imobilizava.
No meio da tarde toca o telefone e quem se importa lhe fala. E quem a importa perguntou: se estava melhor, se iria de noite. E a surpresa lhe tocou e aqueceu o coração.
Riu sozinha e se aliviou por saber de tanto. Por saber que há. Um Mestre!
Do alívio à cura.
Não saberia como lhe agradecer. Talvez a borboleta amarela pudesse lhe agradecer.

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