Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

17 abril 2012

Sobre .... A queda que eleva

... ainda. Ainda estava com o coração inquieto. Ainda pensava se o lugar poderia ser ocupado com a dedicação necessária. O convite havia sido tão generosos e afetuoso que ela insistia em saber sobre o querer dos por quês. Como se os porquês pudessem aliviar o primeiro encontro. Ultrapassar as formalidades e construir um terreno de mínima intimidade. Como se os porquês pudessem aliviar as incertezas sempre tão certas. Sentia-se atrapalhando .... havia sido ensinada a ficar no seu lugar, no seu devido lugar. E quando este lugar não é, necessariamente, seu ... perdia-se naqueles lugares que a habituaram a ocupar.
Quis lhe dizer sobre seus medos de invasão. O convite à acompanhar todas aquelas palavras saindo da boca depois de ocupar o corpo inteiro já era tanto! Ficar ao lado, entender processos, a forma como se alimenta a teatralidade de cada dia, a descoberta do inédito e de sua repetição já lhe preenchia o coração. Estava grata pelo aceite da oferta. Estava empolgada com o movimento. E, ainda, depois de tanto lhe veio mais.
Sobre o mais ainda precisaria se acostumar. Todos precisam. Precisava sair do " mais ou menos". Nunca havia sido tanto faz .... Mas o " mais ou menos" insistia em lhe sussurrar acomodações. Tentou deixá-lo à vontade para desfazer a primeira oferta ... querendo lhe mostrar o quanto já era.
Na confusão desconexa que lhe acompanhou desde a hora que chegou e abriu os portões vermelhos viu o tamanho da sua perdição. Entre o medo da invasão e a vontade de permanecer por perto arriscou riscar suas palavras no ar naqueles minutos possíveis antes das 22:10. Poucas. Precisas. Desmedidas em sua tentativa de precisão para que outras leituras viessem depois do possível desconforto.
Mas .... Um interlocutor que sabe onde apóia seus pés e mãos sabe a direção do seu olhar. Ternamente ele lhe adocicou o fim de noite. Reafirmou o convite e ela se aquietou e deixou marcar. Seria as 9:30 da manhã seguinte daquela noite de" idéias no corpo". Nem se importou com seu retrocesso nas vivências na caixa preta, sabia do abismo daquela decisão. Sabia de onde vinha e apesar de não ter conseguido trabalhar com a concretude daquela ansiedade foi tolerante consigo e com sua mimética produção. Haveria um amanhã de manhã e depois de tanto tempo sem muitas manhãs talvez a noite custasse a passar. Talvez o sono poderia ser perseguido pelo fluxo de pensamentos. Talvez o que falou tivesse impactado o primeiro convite, talvez o aceite fosse episódico. Resolveu deixar os " talvezes" pra depois da manhã daquele amanhã. Teria um tarde entre a noite. Teria um porvir depois do devir.
E depois da mesa posta, das xícaras de tamanhos, formatos e cores diferentes. Entre o açúcar e o sem açúcar. Entre o copo vazio e o nada dela. Entre os sapatos. Entre os papeis e suas letras anunciadas por dentro. Entre tanto e tanto ela se sentiu acolhida e doce. Uma intimidade possível havia sido conquistada em menos de 3 horas e os olhos poderiam marejar se ela nisso continuasse a pensar. Uma tríade é uma bela imagem. Ainda que a lateralidade fosse o eixo havia conexão. Pensou e falou sobre o seu pensar sem muito medo. Falou de si através do texto e ficou tão emocionada por poder ficar um pouco mais.
Sobre o inesperado que ela sempre espera. Sobre o coletivo que ela tanto insisite. Sobre o afeto que tudo move e altera. Sobre os olhos úmidos e a música que sempre faz dançar. Sobre a poesia dos encontros e dos elos. Sobre a intimidade necessária que faz querer ficar junto. Sobre o sob. Sobre o que sempre há no fim e por dentro de cada um. Sobre a compaixão. Sobre a arte e seus artistas de todo.
Sobre .... Gostaria de escrever sobre. Sobre o que sobra depois de se acreditar. Sobre a gratidão. Sobre que o há no agora, nesse exato momento dentro dela. Sobre a valsa e a bailarina que dança na caixinha de música que ainda nem é sua. Sobre as suas coleções. Sobre o desligar dos equipamentos, sobre decisões indecisas. Sobre as decididas indecisões. Sobre o que irá querer .... o que irão.
Sobre tanto e tudo o mais.
Mas .... Há gratidão dentro dos olhos e dentro da boca que irá dizer!
Sobre ....

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