Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

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27 setembro 2012

Lurex

... Logo que chegou tirou sua jaqueta e ouviu que estava vestida pra uma balada. Poderia mesmo querer dançar depois! Embrulhada de lurex de um tom dourado antigo sentiu calor logo que chegou na sala de leitura de literaturas. Todos sentiam frio naquela quarta-feira. A primeira de uma primavera congelante. Desconcertada exibiu seus brilhos adquiridos há umas 3horas atrás. Trocou-se no carro antes de chegar para o café esperado. Em trio. Lembrou que havia arrancado a etiqueta e se alegrado com o achado. Ela custava R$60,00 durante os dias de inverno. E como a primavera se anunciava desvalorizou-se ... R$20,00. E na euforia que há em toda estreia ... entrou em cena. Depois de uma hora de aula e de leituras de literaturas o corpo se esfriou. Talvez o tempo do café quente no corpo tivesse vencido! Gelou por dentro. Cobriu-se por um amarelo. O sol de Camus estava registrado e projetado pela tela da tv. O verão sugerindo coletividades ampliava a subjetividade primeira da imagem do sol. Da Argélia. As janelas fechadas escondiam a lua. E nela ... Toda aquele amarelão cobrindo o dourado antigo. E nela a boca seca de quem se resseca sem esperar. As leituras promoviam as falas. Falas de várias origens, matizes, intenções e atenções. Sentia-se incomodada. Sentia-se viva apesar do pouco acúmulo de literaturas em si. Sentia-se viva pelo percurso de sua própria vida! Sentia a existência de vidas comprometidas com um fazer coletivizado e com uma matriz mais humanizada. Sentia a insistência de vidas que gritavam dentro de si! As intelectualidades rasas promoviam cócegas. Ressecavam seu coração e olhos. E por mais que se prendesse na cadeira. Que se propusesse a não se mexer, não se envolver, não se abater caiu na armadilha da indignação. E tudo se deu a partir de um resmungo, consigo. Um resmungo em voz alta. Daqueles que saem das vísceras e à elas retornam. Espantada com a volúpia de seu próprio som tentou se encolher. Era tarde demais. Infelizmente. Seguiu seu trilho .... Acelerou e descarregou. Descarrilhou e deixou pérolas se esparramarem. Lembrou da sua antiga vivência em escolas públicas. Já havia agido. Não eram só palavras. Eram ações concretas. Era a sua vida ... Aquela que havia sido transformada graças aos encontros. Encontros afetivos, efetivos. Afetação .... Era disso que se tratava. Deixar-se afetar pela possibilidade de se mobilizar e querer ser outro. Renovado em suas crenças políticas-sociais . Ela ... as tinha. .... Ela ... as teve. Ela queria tê-las por uma vida inteira. E era disso que se tratava ... De vivências orgânicas e não de vazios. O silêncio precisava ser um parceiro. Um parceiro para uma mediação. Embates internos seriam permitidos. Mas tudo por entro. Pouco por fora ... Pouco anunciado. Pérolas no pescoço ... E não no chão. Saiu (a)balada! Isso era fato. O lurex ... O dourado ... Os olhos ... As bocas. Os poucos ouvidos. Inclusive os dela. Eram dois só nela. Eram duplicados neles! Precisaria lembrar disso! Escutar! Sim .... Ela sempre defendia suas opiniões assim: com as vísceras inteiras! Menos a tireóide ... Embora essa não fosse considerada uma víscera ainda que interna. Cicatriz!

2 comentários:

Pri Cesat disse...

O bom de ser exuberamente Bela é que tudo é tão cheio de brilho que só ofusca olhos secos. =)

Bel disse...

Passarinha! Tu sabes sobre o que escrevo. Tu sabes de onde esse lurex todo me veio. Tu me vistes ... Tu sempre me vê. Sempre me olhas pra me ver. Pra me rever e isso faz da minha vida um sonho bom! Reluzente! Um beijo enorme.