Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

12 agosto 2008

... de molho

... todo dia ela se deixava um pouco de molho. De molho como se faz com algumas roupas mais encardidas. De molho ... imersa em seus devaneios corriqueiros. E, em dias como aqueles ... estar de molho era mais do que necessário . Era urgente.

Urgente pra que ela pudesse se ver mais limpa que antes. Pra que ela pudesse enxergar a brancura alva em si. Pra que ela pudesse se acender horas mais tarde. Pra que ela pudesse se apagar pra depois se colorir. Pra que tempos depois sob o efeito de uma luz cência ela pudesse se iluminar. Nada escureceria aquele dia que antecederia sua entrega. De pés no chão ela pisaria em sua marca colada com uma fita adesiva no fundo preto da caixa e tentaria dar o melhor de si. Tentaria estranhar-se um pouco mais do que o habitual. Desprenderia-se de sua estimada auto-crítica e tentaria deixar se levar ... elevar.

Dos ensaios ficaria a essência. E dela não se produz substrato? Ela bem sabia que só se manteria vivo o que pudesse escapar da impiedosa racionalidade. Lá, naquele espaço (onde o preto é mais vivo) não caberia mais nada que não fosse a sensação daquelas ... mais sensíveis. Uma grande mentira que se tornaria uma verdade. Prometeu-se: ela estaria atenta ao que lhe rodeia, estaria pronta pra caminhar livremente em diferentes direções até a sensação pousar suas asas de anjo sobre ela. Ela sentiria o peso daquelas asas e as controlaria. Encaixaria-as sobre si. Teria um controle: necessário. Ela acomodaria a si e permitiria seguir o fluxo. Estaria atenta às possibilidades, uma vez, que havia aprendido que a vida é feita delas e só delas. E nenhuma possibilidade seria igual a outra. Entre a recusa e a aceitação só existiria ... Ela.

Ela ... alí exposta e pronta pra ser devorada de novo e mais uma vez. Dessa certeza ela já sabia. E ... queria.

8 comentários:

Biana França disse...

Bel, esse texto trouxe a minha memória lembranças de tempos maravilhosos:
"Nada escureceria aquele dia que antecederia sua entrega. De pés no chão ela pisaria em sua marca colada com uma fita adesiva no fundo preto da caixa e tentaria dar o melhor de si. Tentaria estranhar-se um pouco mais do que o habitual. Desprenderia-se de sua estimada auto-crítica e tentaria deixar se levar ... elevar.
Obrigada, pela sua escrita tão próxima.
Bjus

Biana França disse...

Fiz, Bel, mas já tem um tempinho.E vc?
Bjus.

Sheyla disse...

Bel,
A pequena descrição na foto lá no orkut é de coração mesmo. Que bom que gostou. Achei que já tinha visto, porque faz muito tempo que a sua foto está lá. Naquela época em que nos conhecemos, a minha essência estava guardada, porque queria e queria que a peça acontecesse e usei uma máscara horrível para essa realização. Os poucos que conheciam minha essência sabiam que aquilo não era eu. Infelizmente, não nos conhecemos verdadeiramente,né?
E vc conheceu o pior de mim. Olha, não sou nenhuma Madre de Calcutá, mas tenho um bom coração. Acho que muitas coisas que vc me disse naquela época era o que eu mostrava, mas enfim... O tempo passou, e, virtualmente, estamos descobrindo o melhor de nós mesmas, né? Estamos agora, talvez, despidas.
Ah, quanto ao pelo menos coloridas lá do meu blog e que vc já escreveu um texto com uma frase assim, me diz quando escreveu que procuro no seu blog, ok?
Bjs mil,
Sheyla

Bel disse...

Sheyla..
É verdade....a virtualidade está nos desnudando e abrindo uma nova possibilidade de contato. Muito mais afetivo e vivo do que aquele que vivemos. Um dia espero conversar contigo (pessoalmente).
Quanto ao textinho...foi uma proposta para uma cena de teatro...lá em Brasília...na 508...chamava-se absurdos na mente. Não o tenho aqui. Achei interessante a sincrinia... que temos.
Um beijo e obrigada pela exposição.
Beijo, Bel.

Biana França disse...

Olá, Bel
Fiz teatro por algum tempo, mas algumas coisas me afastaram.É uma emoção inexplicável, amo muito,mas o que importa são as boas sensações que tenho guardadas em mim.
Algumas coisas nos ligam, não é mesmo? Como vc mesma disse:"Venham comigo e aos poucos irão perceber-me. Iremos ... à todos!"
Bjus, querida.
Biana

SGi/Sonia disse...

Bel, toda vez que passo por aqui me impressiono com a maneira delicada que escreve.
Cada coisa bonita, ainda estou digerindo o "Tujú", achei lindo, já vivi cena assim na vida.
Leio e vou achando(com muita pretensão) que te conheço, que aqui você escreve sobre você.
Tão lindo!

Beijins

Bel disse...

Biana ...quando o bichinho do teatro entra coração à dentro...a gente sempre vai deixar um espaçoà ser ocupado novamente. Eu...ando com o meu me corroendo de emoção, sabe? Também adoro! E, ainda insisto.

Sônia...que lindo o que me dissestes. Agradeço muitíssimo. Saõ coisas minhas...sobre meu jeito de ser e de ver o que se move à minha frente ... coisas nossas, talvez!
Que bom saber que ainda me visitas e que minha paisagem te refresca.


Um beijo,
Bel

Elga Arantes disse...

Bel,

Ainda não tinha tido a curiosidade de ler seu perfil. Então, ficou mais claro tamanha sensibilidade ds seus textos. ARTEIRA! Seus 'interesses' te desnudam, sabia?

Vc é de Floripa... Engraçado, estou formando em minha volta um clã de pessoas maravilhosas (pelo menos virtualemnte, rs) e com uma diversidade enorme (BH, SP, Vitória, Brasília, Floripa). Paradoxalmente, com tantas coisas em comum.

Viver é mesmo bom demais da conta, uai!