Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

19 novembro 2009

Distraí-se

... ela tinha olhos ávidos. Queria ver tudo que se passava ao seu redor. Distraía-se cotidianamente. Nada lhe prendia a atenção nem o cliente e seu pedido urgente, nem as colegas e seus pedidos colaborativos e nem ela mesma em sua displicência recorrente. Enquanto lavava a louça no balcão da padaria seus olhos davam voltas e mais voltas dentro da loja. Espuma entre as mãos e olhos vidrados numa cliente cheia de bossa. Analisou-a de cima a baixo e entre piscadelas curiosas projetou-se nela: das unhas escondidas na espuma do detergente ela se viu colorida por um esmalte vermelho impecável. Sentiu aquele vestido leve e colorido pousar sobre seu corpo cansado. Imaginou o peso daquela bolsa amarela: o peso do cansaço aumentaria ou coloriria? Ficou por lá encarnada naquele corpo até a vida lhe salvar: a explosão do liquidificador fez o contato do líquido retrair a pele jovem. Uma espécie de frio: quase um calafrio. O uniforme manchado pelo chocolate fez com que Bia voltasse ao seu eixo. Os rodopios poderiam fazer vasar: dos líquidos às emoções. Pegou um paninho de louça e secou a pia antes de secar a si mesma. Concentrou-se por alguns segundos antes de se deixar levar por seus olhos ligeiros. A moça da bolsa amarela se foi segurando suas compras dentro de sua bolsa retornável. Retornaria sem nunca ter abandonado Bia. Há imagens que se perpetuam nas retinas.

3 comentários:

Elga Arantes disse...

Ai que saudade que eu estava da sua criatividade serena, do seu olhar mais colorido que os outros olhares que também enxergam colorido, onde parece não haver cor alguma.

Saudade da sua capacidade de vez grandeza nos pequenos detalhes, de fazer com que a gente veja as cenas que você descreve, todas em câmera lenta, com uma música lenta e inédita como pano de fundo.

Ler seus textos é como abrir uma caixinha de músicas, daquelas que tem a bailarina rodopiando incansavelmente, e sempre delicada. Sempre na ponta dos pés...

Muitos beijos, querida Sininho!

Bel disse...

Adorável ...

Aiii! Que tu me colores pra eternidade toda com teu olhar doce sobre mim. Só tu me percebes assim como descreves. E, sendo tu ... alegro-me imensamente.
Saudades tuas ... saudades.

Adorável.... achei que estavas distante por conta de um textinho que fiz pra ti. Tu lestes? Ficastes triste com alguma coisa escrita sobre ti? Pra ti?
Espero que não ... porque te vejo do jeito que te escrevi ... descrevi em meu mundo de bolinhas.

Tua passagem por aqui é sempre um desfile.
Muitos beijos minha adrável mais que querida.

Sininho ...

Elga Arantes disse...

Claro que não, flor!!! Ficar chateada com uma homenagem? Fiquei foi muito lisonjeada, muito feliz. Muito, mesmo. Até copiei o texto e guardei...

Agora que falou, fui até os comentários para ver o que poderia ter feito vc pensar assim e descobri que o comentário que achei que tivesse escrito, na verdade não existe.

Vou escrever, de novo. Apesar das sensações de um momento para outro nunca serem as mesmas, depois vou tentar descrever o que senti em relação a tudo aquilo.

Um beijão, querida fada!!