Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

Casa di Bebel ... Rabiscos sem papel

03 dezembro 2009

Naquele dia ....

Naquele dia ela tentou se distrair. Envolvida com os preparativos da noite de exibição não quis exibir-se. Nem pra si. Acordou cedo pra organizar a casa pois a sua ajudante viria purificar o ar. Recebeu-a acordada ... ela estranhou. No varal os lençóis estendidos anunciavam que o dia seria cheio... que o dia havia começado cedo. Denúncias.

Varal cheio ... pensamentos ao vento. Ar puro. Promessa de noite quente.

Do varal ao supermercado. Carrinho florido e bolachas doces apresentavam a dona que o conduzia sem muita pressa. Água mineral pra beber na garrafa. Água mineral pra colocar nas orquídeas. Pensamentos corriqueiros ... resoluções costumeiras. E ... lá longe ... uns pensamentos voltados para de noitinha. Ela se via como quem procura uma mercadoria lá no fim de um corredor. Uma suspeita: ela precisaria chegar mais perto ... observar-se. De noitinha viria ela na película. Um fim de dia, de tempo, de movimento. Processo concluso .... dentro dela tudo difuso. Estaria preparada para as despedidas? Saberia ser sincera consigo? Conseguiria dizer .... sim?

Fugia da expectativa. Do supermercado ao salão de embelezamento. Coloriu suas extremidades em tom vermelho intenso: sugestão de sua vizinha. Aceitou. Sentia-se adormecida, sentia-se quase desmaiada naquele esperado dia. Saiu de lá tingida e menos dormente. Escapou da palidez de alguns instantes. As 5 da tarde foi buscar seus dois amores e os trouxe pela mão quase como filhos. Inversão do tempo. De pai à filho. De filha ã mãe. Atraso do transporte ... menos tempo pra pensar no que viria. Um café rápido pra eles ... dois. Uma urgência nela a fez rejeitar o café amargo combinado com o pão (da mãe) com manteiga e mel. Tanto que quis disfarçar o tempo ... o tempo lhe faltou. Vestiu-se de preto perto das 7 e coloriu os pés com um azul salpicado pelo tom cor de rosa. Foram ... os três: pai, mãe e filha. Ordem invertida .... amor mantido.

Chegaram depois de muitos ... as duas amoras enfeitavam a sala de espera. Os vizinhos cúmplices de jardim e flores já estavam na fila. E ... muitos outros queridos há tempos. Além de tanto havia ele. Ele e a promessa de vinda dele. Ele chegaria para a segunda sessão. Ela teria que enfrentar a primeira sozinha. Sozinha não .... solitariamente.

Sentados no centro ... rodeada pelo afeto ... viu-se. Grande e cheia. Viva e densa. Acostumou-se consigo e viu sua Vera dar a luz à ela. Foi junto ... de longe se despediu daqueles 30 minutos de vida recortada. O processo refletido no produto? O produto materializava o processo? Acalmou-se. As luzes se acenderam e ela recebeu o que era seu. Carinho. Doces espalhados na retina. Não quis responder. Ainda não se responderia. Nem ousaria se perguntar ... lhes perguntar.

No fim do dia o balanço: ele ficou preso pela força do mau tempo: voo cancelado, atraso inesperado. As amoras doces fizeram dela uma geléia: deixou-se esmagar pela força do carinho em forma de abraços. Alguns lhe parabenizaram pela entrega, outros pela beleza da forma, uns tantos pelo carinho impresso no cuidado. No fim de quase tudo ela voltou sozinha. A emoção congelada pra depois. A dor de cabeça sinalizava uma certa exaustão. Acalmou restos de decepção. Juntou as mãos e se abençoou.

Viu-se no espellho retrovisor e não se estranhou.

Aliviaria e deixaria os dias correr.

Entre os retratos de família ... entre a ficção e a realidade. Ela esperaria pelo tempo ... corrente.

3 comentários:

Elga Arantes disse...

E eu? Não vou poder apreciar???

Queria demais!!!!

Beijão!

Geisa Mariana disse...

Ai comadre...tuas palavras embalam a saudade...Como é bom sentar aki com tempo e ler-te calmamente...bjssssss

Bel disse...

Adorável ... vai ver, sim! No dia em que a gente se ver também. Quero muito e tanto.
Saudades,
Um beijo.

Comadrinha ... quando tu me dizes assim eu acredito, sabias?
Saudade tanta e tanta.
Um beijo, querida.

Bel.